A Terapia - A visão do Pathwork

Chegamos à dimensão 'Terapia' do caminho de autotransformação do Pathwork. Como as demais, ela não é estanque, mas se conecta, enriquece e complementa o trabalho integral feito pelo pathworker. No Pathwork, não se espera uma sessão de terapia que seja um parêntese em uma vida, mas um espaço de aprofundamento de um processo que é contínuo, regular, diário, a partir de um nível de consciência e autorresponsabilidade que leva o aluno a perseguir ativamente seu autoconhecimento por meio de ações como as que vimos descrevendo.

Talvez seja por isso que o Guia afirma que o Pathwork não é exatamente uma terapia; pelo menos não da forma como a maioria das pessoas convenciona este termo. A psicoterapia convencional almeja um estado de conexão com a realidade do paciente e a realidade de como a sua vida se apresenta. Em certo sentido, terá êxito se a pessoa se apropriar melhor de suas correntes internas, conhecer seus limites e possibilidades e aprender a lidar com suas questões de vida. E este propósito, se alcançado, é de valor considerável.

Terapia Pathwork

O paradoxo apresentado pelo Guia: O Pathwork ao mesmo tempo é e não é uma Terapia convencional. Vamos entender o que isto quer dizer. 

A palestra 162 – Três níveis de realidade para guiança interior – detalha os três níveis de realidade, que são: o que eu acho que é, o que é, e o que pode vir a ser. Antes deles, há o nível da pré-realidade - ou irrealidade, mesmo -, em que a pessoa está tão desconectada e autoalienada que não atingiu nem o primeiro nível da realidade (o que eu acho que é) no todo ou em áreas de sua vida. A pré-realidade seria um estado em que o indivíduo não consegue identificar com clareza e consciência qual é o teor de seus próprios pensamentos e conceitos acerca de si ou situações de sua vida. Os 3 níveis de realidade representam, desta forma, condições de crescente apropriação da realidade interna, pois ela (a realidade) se encontra, efetivamente, dentro do self.  

“Eu diria que em uma psicoterapia terrena o mais alto objetivo que se pode atingir normalmente é o nível da realidade, aquilo que de fato existe. Quando o homem aceita essa realidade, aceita seus valores e defeitos manifestos, aceita suas limitações e o mundo exterior, quando lida e trata com o mundo de modo a gerar suas melhores ações e sentimentos, isso seria o melhor que se poderia esperar no melhor dos casos. Seria o ponto em que o paciente recebe alta. Mas este é apenas o ponto em que começa nosso caminho espiritual”. Palestra 162 – Três níveis de realidade para guiança interior –, pág. 06.

Assim, uma terapia convencional bem sucedida consegue levar o paciente ao segundo nível de realidade, aquele em que ele conhece os fatos de sua vida como são. O Pathwork, todavia, almeja muito mais do que isso. Onde a terapia termina é o ponto de partida para o processo de transformação pessoal que o Pathwork nos convida a empreender

Algumas pessoas podem tomar como presunção a alegação de que o Pathwork tem objetivos mais amplos e potencial maior de transformar o indivíduo do que as terapias convencionais, como as linhas de psicanálise e psicologia, por exemplo. 

Vamos considerar, de início, que o método Pathwork é multidimensional e, sobretudo, é determinado a transformar o eu inferior. O eu inferior são os nossos aspectos involuídos, distorcidos, que criam, deliberada ou inadvertidamente, todo tipo de mal, em qualquer intensidade, nas nossas próprias vidas e nas vidas das pessoas que afetamos a partir deste nível de ser. O Pathwork tem ainda um componente espiritual, uma egrégora que lhe dá sustentação, uma sabedoria espiritual profunda e consistente. Este método busca tornar consciente o inconsciente e, em meditações, trabalha na purificação dos sentimentos e insemina na “substância da alma” novas possibilidades. 

Tratamos acima de elementos que caracterizam o Pathwork que não se apresentam na mesma combinação, forma e intensidade na terapia convencional. A questão do enfrentamento do eu inferior, então, é ainda mais controversa. O Pathwork define a tríade de defeitos da alma como o orgulho, a obstinação e o medo. É por aí que vamos iniciar a investigação do nosso eu-inferior. Orgulho, obstinação e medo se assentam sobre muitas distorções, como malícia, crueldade, preguiça, ignorância, separatividade, para mencionar algumas. É premissa comum nas “ciências da alma” que o autoconhecimento é chave para a transformação do ser, mas não é sem crítica que muitos adeptos de linhas convencionais de terapia, e muitos pacientes também, se posicionam em relação ao enfoque do Pathwork na transformação do eu inferior, e no esforço e desconforto que está contido nisto. Convém observar o que o Guia diz acerca da diferença de abordagem que o Pathwork dá ao enfrentamento do eu inferior em relação a outras linhas de terapia convencional: 

Se vocês quiserem trilhar este caminho e ser curado de suas enfermidades emocionais, é importante que compreendam tudo isso. Mesmo que você não seja o que se denomina um “neurótico” e que haja apenas desvios pequenos da lei interior em você, será muito útil compreender tudo isso e meditar a respeito. Isso pode explicar por que acontece tão frequentemente de uma pessoa submetida à psicanálise com um médico que segue rigidamente uma escola de pensamento que não admite nenhuma verdade espiritual e que não é muito intuitivo em relação a tais coisas, mergulhar em uma crise na qual seu estado mental se torna pior do que era antes do início do tratamento. Claro, podem existir médicos que têm uma boa intuição e um forte senso de orientação, o que faz com que tal fenômeno não ocorra com tanta frequência e intensidade. Mas quando a máscara é rasgada e o paciente se depara com seu eu inferior, a experiência pode ser tão dilacerante que o paciente colapsa completamente, abandona a terapia e sofre consequências ainda mais sérias. Por outro lado, se esta pessoa for orientada sobre o que eu estou dizendo a vocês, logo, preparada para o que esperar, muita dificuldade, e frequentemente até tragédia, poderia ser evitada. Se o paciente soubesse que ele tem de encarar o eu inferior, que existe em cada ser humano, e se ele também soubesse que este eu inferior, desagradável como possa parecer, não é o eu definitivo, e que o eu superior, que é perfeição, esperando para crescer a partir destas camadas de imperfeição, é o eu verdadeiro, este choque nunca chegaria a acontecer. Palestra 014 – O eu superior, o eu inferior e a máscara –, pág. 04.

Assim, no método Pathwork, de partida, o aluno recebe conceitos sobre a estrutura da personalidade, e o contexto espiritual no qual estamos imersos, percebe segurança e acolhimento no enfrentamento de suas partes mais problemáticas e é encorajado a fazer isso com coragem e sem julgamento severo.

Se na terapia convencional é comum ou aceitável que partes do self permaneçam indefinidamente encobertas, o Pathwork, neste ponto, é mais exigente. Tudo deve ser explorado, nada é para ficar de fora. Neuroses, problemas psicológicos e defeitos de caráter são intrincados. A origem deles pode se esconder em núcleos e correntes internas que dificilmente se considerariam relacionados ao sintoma.  Há os mecanismos de deslocamento e substituição, por exemplo, cuja identificação e resolução demandam um autoconhecimento profundo, sem reservas, com a inevitável necessidade de identificar cada expressão do próprio eu inferior. 

A espiritualidade preconizada pelo Pathwork não é autoalienante e nem almeja o atingimento de estados elevados de consciência, que por si só, são apenas distrações, mas é um processo muito prático, que lentamente conecta o indivíduo à orientação espiritual genuína que existe tanto dentro de si, no eu superior, quanto na realidade invisível, que é tão ou mais real do que a realidade manifesta, em que vivemos esta experiência encarnada. O Pathwork trabalha na expansão da consciência, e por meio dela, uma verdadeira evolução psicológica e espiritual. 

Portanto, quando o Guia diz que o Pathwork não é nem terapia nem caminho espiritual, ele quer dissociar o método Pathwork de estratégias evasivas tantas vezes a eles associados. Ou seja, pacientes que buscam terapia para tratar sintomas ou áreas restritas da personalidade, ou linhas terapêuticas que se conformam com essa exploração restrita do self, em um contexto de racionalismo que no fundo põe freio a reconhecimentos fundamentais, e que aliena o indivíduo da realidade maior em que ele inescapavelmente vive; ou um caminho espiritual ingênuo, que isola o indivíduo de sua realidade interna, dos outros e da sociedade, que promete uma suposta elevação de consciência ao custo de manter intocadas as partes mais involuídas do ser, e que, logicamente, termina em tempo perdido e resultados pífios. 

Quando, todavia, se contextualiza terapia e caminho espiritual não nestas premissas falhas, mas na ótica da total autorresponsabilidade do indivíduo na criação da própria vida, da necessidade de transformar o eu inferior, da possibilidade prática disto ser feito, da existência de um mundo espiritual de Luz que vai nos ajudar, mas não vai fazer por nós, então o Pathwork é também terapia e caminho espiritual – e dos mais transformadores, senão o mais profundo.  

A terapia a que vamos nos referir, doravante, nesta dimensão do Caminho é a terapia individual, que acontece em um setting terapêutico formado pelo helper e o paciente, e que, devido a uma atenção personalizada, pode levar a um entendimento muito mais profundo das questões psicológicas deste. O grupo de estudo de Pathwork, dimensão que já abordamos, pode, com efeito, ser classificada como terapia de grupo, mas a dinâmica e extensão desta terapia é diferente da terapia individual. 

A terapia de grupo, por sua vez, divide tempo e atenção entre várias pessoas. Embora tenha um efeito terapêutico salutar, certamente não proporciona a profundidade e foco de uma terapia nas questões individuais. A terapia de grupo tem um efeito positivo na socialização dos pacientes, na possibilidade da troca de experiências e perspectivas sobre questões da vida e qualquer assunto objeto de atenção e estudo. Não é, todavia, o espaço mais adequado para questões muito privadas, sensíveis. Neste caso, a terapia oferece a privacidade, o foco e o cuidado que este conteúdo emocional requer.

Sigamos, então, aprofundando nesta dimensão do Caminho. 

Muita paz!


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