A Terapia (2) - Com helper ou outra linha de terapia?
Vimos o que distingue a terapia na metodologia Pathwork das
terapias convencionais. Neste capítulo, adotaremos uma abordagem que parte do geral para o específico. Antes de adentrar nas questões
próprias da terapia no contexto deste Caminho, vamos considerar a questão de
uma escolha que, desde o início, se coloca ao pathworker: Devo fazer terapia
com um helper de Pathwork ou com um terapeuta de outra linha?
Muitos pathworkers chegam ao Caminho
por meio de grupos de estudo e ali permanecem por anos, sem fazer
terapia individual. Há aqueles que entram em grupos de estudo para conhecer o
que é o Pathwork, mas que mantém em paralelo a terapia de outra linha
psicológica que já faziam. A pergunta mencionada surge quando este aluno sente
o anseio de se aprofundar no seu Pathwork pessoal. A pergunta é legítima e a
questão possui nuances que merecem ser esclarecidas.
Primeiramente, somente o helper de Pathwork
(ou simplesmente, helper) está capacitado e autorizado (pelas regionais
de Pathwork no Brasil) a aplicar o método Pathwork em uma terapia individual.
Facilitadores de Pathwork ou profissionais que já fizeram ou estudaram Pathwork
no contexto de aluno não possuem tal prerrogativa legal. Esta restrição consta
do Regimento do Pathwork Brasil. Ou seja, é o helper quem poderá
conduzir o pathworker neste trabalho terapêutico de aprofundar o
autoconhecimento sob a luz do Pathwork.
Ainda, é condição fundamental para estar neste
Caminho ̶ e compartilhar da comunidade do
Pathwork ̶ que o pathworker participe de grupo de estudo
ou realize terapia com um helper. Grupos de estudo podem ser conduzidos
igualmente por helper ou facilitador de Pathwork. É muito comum aqueles que
fazem grupo de estudo e terapia com helper. Participe ou não dos
Programas Pathwork de Transformação Pessoal, o pathworker tem de, minimamente, ser
membro de um grupo de estudo para ter a supervisão adequada ao seu trabalho
pessoal. Desta forma, fazer terapia, e fazê-la com um helper ou não, são
escolhas.
Suponhamos agora o caso de um aluno que decidiu iniciar a
terapia porque enxerga o processo como necessário para ganhar autoconhecimento
e está comprometido a dar um passo adiante no seu caminho de autotransformação.
Palmas, sábia atitude. Ele está consciente do quanto este ponto de vista
exterior, profissional e especializado, pode ser fundamental na identificação,
compreensão, associação e elaboração das inúmeras distorções que atuam neste
porão escuro e confuso que pode ser a nossa psique.
Neste ponto, cabe antecipar a conclusão, que é: se há um
processo de autoconhecimento efetivo, em boa dinâmica, então é válido. O
resultado de autoconhecimento, e a consequente expansão da autoconsciência, tem
valor em si mesmo. Embora grupo minoritário, há pathworkers engajados em grupo
de estudo, até em formação, que escolhem manter ou iniciar terapia com
profissionais de outra metodologia diferente do Pathwork – psicanalista,
psicólogo, terapeutas etc. Sabemos que o Pathwork é um caminho de
autotransformação multidimensional e a terapia é uma destas dimensões, mas não
constitui o método inteiro. É viável se engajar neste caminho, ativo em grupo
de estudo ou formação, praticando o método cotidianamente, enquanto conta com a
ajuda especializada de terapeuta sem conhecimento específico do método, mas que
o ajude a progredir em seu processo.
Algumas nuances, todavia, são importantes de se ter em
mente, que trazem uma distinção entre duas escolhas essencialmente válidas, mas
não iguais em seus contextos.
De início, há uma diferença fundamental de contexto e
propósito entre a terapia convencional e o Pathwork. Vimos que o Pathwork tem
um lastro de sabedoria espiritual, uma visão espiritual do ser e da vida e uma
ambição de purificar, transformar mesmo, aquele que se dedica honestamente ao
método; muito distinto de linhas terapêuticas meritórias, mas fundamentadas em
visões materialistas, que reduzem o potencial real do indivíduo e, tão
frequentemente, almejam somente uma adaptação de ego que alivie o paciente de
suas angústias existenciais e sintomas neuróticos.
A caminhada no Pathwork vai lentamente forjando em nós uma
nova visão sobre quem somos e a natureza espiritual da vida. O estudo das
palestras, o compartilhamento de experiências entre colegas de caminho, a
aprofundamento do autoconhecimento proporcionado pelas revisões diárias, por
exemplo, bem como travessias que naturalmente realizamos em nosso campo
emocional, contribuem para ampliar nossas percepções, questionar crenças
obsoletas e incorporar novos conceitos sobre as realidades, dentro e fora. O que
antes era um elemento teórico interessante, passa a ser assimilado e confirmado
pela experiência.
É possível imaginar como esta disparidade entre a
perspectiva do paciente pathworker e a do terapeuta de uma outra linha possa
criar, em algum momento, dificuldades à terapia. Sabemos que uma
parte importante do trabalho no Pathwork consiste em um diligente
reconhecimento e enfrentamento do eu inferior, de forma que ele seja
gradualmente transformado. Isto não é um processo emocionalmente fácil, mas é
viável quando o pathworker tem consciência da premissa que fundamenta este
empreendimento e dispõe do amparo profissional e, por que não dizer,
espiritual, para sustentar seus percalços e atravessá-los.
Sobretudo nos estágios iniciais e intermediários desta
investigação, o aluno pode sentir angústia, autodecepção e depressão intensas
ante a percepção do pior em si, há tanto reprimido por grossa defesa. Revolta,
por exemplo, pode surgir e, não conseguindo tão facilmente ser projetada para fora –
em pessoas e situações –, se direcionar fortemente contra a própria pessoa,
acentuando sentimentos de baixa autoestima e desesperança. É comum, neste
ponto, que um terapeuta não helper de Pathwork manifestar ressalvas quanto
a esta abordagem, que pode julgar intensa demais, contraprodutiva, ou até
arriscada e danosa. Quase 70 anos de Pathwork nos dão a certeza da segurança
que é enfrentar o eu inferior no contexto deste caminho e do quão libertadora é
a sua muito gradual transformação.
A visão espiritual da vida, inerente ao Pathwork, pode
também gerar incompreensão em um terapeuta alinhado pessoal e profissionalmente
a uma linha de pensamento mais materialista. A lente com a qual uma pessoa
enxerga a si mesma, as outras pessoas e a vida opera sobre um conjunto de
valores que influencia cada decisão. O trabalho com um terapeuta que não
consegue legitimar determinados valores nos quais não acredita ou não compactua
pode gerar uma contestação, explicita ou não, acerca de escolhas do paciente
que são feitas a partir de premissas que fazem todo sentido no seu caminho
pessoal. Certas decisões do paciente tomadas a partir de um nível de
consciência que incorpora valores espirituais, tais como a vida eterna, a lei
de causa e efeito (lei do carma), e a impossibilidade que uma ação
essencialmente danosa a outra pessoa possa gerar benefício real para o self,
podem, em alguns momentos, parecer insensatas ou até motivadas por fraqueza
para quem vê a realidade sob um prisma materialista, excessivamente pragmático
e racional.
Se um profissional muito bem-preparado consegue conduzir bem
a terapia em tais situações, ainda assim, há chances de o processo ser tomado
por resistência e estagnação e de o terapeuta entrar em uma condição limitada
de oferecer o auxílio que este paciente precisa. Noutro artigo, abordaremos a
questão da transferência e contratransferência no processo terapêutico,
esclarecendo melhor o que significam e as ações possíveis, de ambas as partes,
para identificar e lidar com cada uma. As situações exemplificadas acima são
pontos de atenção quando a escolha é por um terapeuta que não é helper
de Pathwork.
Esta diferença de visão é muito menos provável de acontecer
com um helper. Ele foi autorizado a atender de forma profissional após passar
por uma formação extensa e exigente, que o fez conhecer e vivenciar o método
Pathwork profundamente. O helper compartilha com o paciente de um sentido de
busca semelhante e fala bem a nova língua que este está aprendendo no caminho
do Pathwork. O helper tem um evidente trabalho de autoconhecimento já
construído, e isto não é exatamente uma verdade para terapeutas de outras
linha, ainda que façam eles próprios terapia e recebam supervisão.
Há ainda uma diferença na relação entre helper e
pathworker em atendimento que merece destaque. Trata-se de uma relação bem mais
informal do que a relação normalmente existente entre um terapeuta clássico e
paciente. O helper é um guia e companheiro no caminho, que sabe
identificar o paciente em lugares que ele próprio já atravessou em sua jornada.
É comum terem convivência também fora da terapia, eventualmente em grupo de
estudo ou na Formação e em eventos sociais da comunidade, sem prejuízo ao
processo terapêutico. As fronteiras existem, mas são mais brandas;
transferência e contratransferência também existem, mas o Pathwork fornece
recursos para ambos lidarem de forma mais consciente com estes processos.
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Terapeuta convencional ou helper de Pathwork: uma dúvida legítima. |
Portanto, a escolha de que estamos tratando é legítima e ambas são capazes de auxiliar o pathworker a ganhar autoconhecimento e dar passos importantes no seu Caminho, na sua vida. Todavia, este autor vê vantagens na terapia com um helper e a recomenda se é a escolha da pessoa se comprometer por vários anos em um caminho de autoconhecimento e autotransformação à luz do método Pathwork, um caminho profundamente transformador que integra sabedoria espiritual, coragem emocional e compromisso com a verdade interior.
Os próximos artigos considerarão a terapia com helper,
mas paralelos podem ser traçados pelo leitor se a escolha foi por um terapeuta
adepto de outro método.
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