A Prática do Pathwork - Uma metáfora (imperfeita)

 

Em 29 de maio de 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o nepalês Tenzing Norgay alcançaram o cume do Monte Everest, o mais alto do mundo, a 8849 metros acima do nível do mar. Tratou-se de um feito notável, com imensa repercussão, dado o grau de dificuldade da aventura. Muitos montanhistas corajosos haviam tentando antes, sem êxito. Uma conquista dificílima, que marcou a história da exploração humana.

A prática do pathwork
Edmund Hillary e Tenzing Norgay no pico do Monte Everest

Passadas muitas décadas, o desafio desta escalada continua extraordinário para aqueles que a escolhem empreender. No entanto, o contexto atual já é diferente. Centenas de montanhistas atingem este objetivo a cada ano. O que explica isto? Para responder a esta pergunta podemos abordar a evolução do conhecimento sobre montanhismo e sobre esta montanha específica, a experiência documentada de tantos que lograram alcançar o cume e a melhorias nos equipamentos e técnicas de preparação.

Vejamos. Enquanto os pioneiros - Hillary e Norgay - desbravaram um terreno praticamente desconhecido, com riscos ainda ignorados e com equipamento simples - alguns até improvisados -, os montanhistas modernos têm acesso a equipamentos mais leves, duráveis e eficientes; vasta informação documentada sobre rotas e técnicas de escalada; equipes de apoio, resgate e primeiros socorros; comunicação via satélite; e também, muito importante, programas de treinamento especializados e experimentados.

A prática do Pathwork
Monte Everest: desafio extraordinário, mas conquistável por cada vez mais montanhistas

O Pathwork também teve seu grupo de pioneiros, que foram no caso aquelas pessoas que se acercaram de Eva e aplicaram o "Pathwork na prática" pela primeira vez. Eva Pierrakos foi, então, a pioneira por excelência, pois aplicou "Pathwork" em si, sob orientação do Guia no proceder, anos antes de canalizar a primeira palestra. Entre 1952 e 1957, fase de preparação para o cumprimento de sua missão, Eva concentrou muito esforço no seu autoconhecimento (ao final, link para artigo sobre a preparação de Eva para a missão).

Fazer um trabalho tão profundo com a psique humana nos anos 60 ou 70 foi com certeza desafiador. O conteúdo do próprio Pathwork ainda estava sendo entregue. O medo do autoenfrentamento era presente e intenso naquela primeira comunidade. As defesas internas, nunca expostas ou contestadas na vida daquelas pessoas, eram fortes e rígidas. O método era experimentado como se eles estivessem em um quarto escuro, tateando em busca de orientação. É possível imaginar que a exploração do próprio inconsciente, a exposição do eu inferior, as práticas de grupo, as vivências, deveriam ter um ar de inovação, prova e desbravamento similar ao de Edmund Hillary e Tenzing Norgay enfrentando o Monte Everest.

Em suma, as referências eram mínimas e quase tudo do que hoje conhecemos como a aplicação do Pathwork estava sendo testado ou ainda por ser criado. Contudo, contra todas as probabilidades, os pioneiros perseveraram, prosperaram no trabalho interno e ajudaram a construir as bases desta edificação que é o Pathwork agora.

Algumas gerações de "trabalhadores do caminho" já se sucederam e a realidade do Pathwork atualmente é bem estabelecida. Em cinco ou seis décadas, houve avanço, expansão e construção. A metáfora com o montanhismo é para colocar o argumento de que, daquela comunidade inicial que se formou ao redor de Eva Pierrakos, temos presentemente uma ampla comunidade global do Pathwork, bem estruturada e sólida no conhecimento e experiência do método. 

Sobre a estrutura, podemos mencionar a Fundação Internacional, os centros e regionais de Pathwork em muitos países, os Programas Pathwork de Transformação Pessoal (PPTP) com conteúdo e organização semelhante por todo o mundo, os milhares de Facilitadores e Helpers habilitados e cerca de dezenas de milhares de alunos nesta comunidade global.

No que diz respeito ao conhecimento sobre o método, pode-se afirmar que os conhecimentos teórico, empírico e prático sobre a metodologia Pathwork já estão muito consolidados. Muitos livros foram e tem sido publicados sobre o assunto, há disseminação de conteúdo relevante sobre o método em várias mídias modernas - sites de internet, canais de YouTube, páginas de Instagram, por exemplo. Além disso, já existe um calendário de encontros internacionais, nacionais e regionais do Pathwork, que promovem debate, troca de experiências, exposição de inovação na aplicação do método e nivelamento do conhecimento na comunidade.  

Desta forma, o pathworker que inicia hoje sua jornada de autoconhecimento com o acompanhamento profissional adequado encontra um ambiente capaz de nutri-lo com segurança sobre o processo, orientação apropriada para a prática e suporte para atravessar com consciência as fases críticas do caminho. Ele tem uma condição melhor de prosperar eficientemente no propósito de autoconhecimento e autotransformação. E podemos assegurar que a produção de autoconhecimento e autotransformação pelo indivíduo definem uma encarnação proveitosa e bem vivida.

A metáfora proposta tem, porém, algumas inconsistências e é importante abordá-las. 

A primeira inconsistência está no "ponto de chegada". No montanhismo, ao alcançar o cume do Monte Everest - o "topo do mundo"- não se consegue subir nem mais um centímetro. Faz-se um vídeo, tiram-se algumas fotos, avista-se uma última vez o panorama para fixá-lo na memória e daí apressa-se a descida para escapar logo da zona mais arriscada. O caminho de autoconhecimento e autotransformação, por sua vez, não tem um limite. Ele é literalmente infinito, assim como é infinito o nosso inconsciente.

A segunda inconsistência é que, ao contrário do montanhismo, em que a parte mais difícil vem por último, quando o cansaço e as condições atmosféricas são piores, na jornada de autoconhecimento é justamente a fase inicial a mais desafiadora. Confiar no processo e na ajuda profissional, observar e enfrentar o eu inferior, assumir autorresponsabilidade pela criação da própria vida e aceitar fazer as primeiras renúncias representam para quase todos um obstáculo complicado de transpor. É uma conquista para os perseverantes e comprometidos com a verdade, seja ela o que for.

A terceira inconsistência está no perigo de morte implícito na metáfora. Embora, como exposto, o cume do Monte Everest seja alcançado a cada ano por cada vez mais montanhistas muito bem preparados, alguns deles morrem na tentativa, pois o desafio permanece não só extraordinário na dificuldade, mas também fatal no risco. A jornada do autoconhecimento e autotransformação, por mais árdua que possa ser às vezes, não acarreta tal risco; pelo contrário, traz mais vida à vida de quem a empreende. O ego pode se sentir extremamente ameaçado, mas é um medo ilusório. É uma jornada essencialmente segura, que paga em bênção e libertação todo o esforço.

Por meio desta metáfora imperfeita, tentei passar uma visão sobre o método Pathwork, a ser complementada na próxima postagem. 

Espero que este blog contribua significativamente para o entendimento do 'Pathwork na prática' e seja uma fonte valiosa de informações para os pathworkers. A tomada de consciência sobre alguns conceitos e técnicas do método Pathwork em estágios iniciais da caminhada pode trazer um ganho no desdobramento do processo pessoal. 


Até a próxima e muita paz.


Artigos sobre a vida de Eva Pierrakos:

Eva Pirrakos (1) - Infância ao pós Segunda Guerra - 1915 a 1946 (umajornadadepathwork.blogspot.com)

Eva Pierrakos (2) - Preparação para a missão - 1947 a 1956 (umajornadadepathwork.blogspot.com)

Eva Pierrakos (3) - O Recebimento do Pathwork - 1957 a 1979 (umajornadadepathwork.blogspot.com)

Artigos sobre o método Pathwork:


A Prática do Pathwork (3) - As Dimensões do Caminho (umajornadadepathwork.blogspot.com)



Comentários

  1. Oi, Camilo, grato pela tua partilha. Boas reflexões sobre busca que segue.
    Tive a oportunidade de conhecer o Path nas primeiras turmas de formação de Facilitadores e Helper na Bahia conduzida por professores americanos. Fui o primeiro Helper do sexo masculino a ser formado.
    Digo tudo isso para concordar contigo que a busca é infinita e para Dentro.
    Um bem bom abraço...

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  2. Bacana, Rino. Grande abraço para você, parceiro neste Caminho!

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