O Grupo de Estudo (3) - Como era no princípio, agora e sempre

 

É comum as pessoas associarem o caminho de autoconhecimento e autotransformação do Pathwork com práticas mais individualizadas, tais como a oração, a meditação e a revisão diária, por exemplo; ou também com a terapia com um helper, que também tem esta característica de ser um trabalho personalizado. Tudo certo até aí. Mas, para se ver o "trabalho do caminho" em sua inteireza, é preciso incluir a fundamental relação entre o ser e o outro. Neste caso, o grupo de estudos cumpre uma função indispensável para o aluno.


Grupo de estudo de Pathwork
Estar em grupo, em relação, é um fundamento do Pathwork

O Pathwork é definitivamente um caminho espiritual que tem esse aspecto de comunidade, em que o relacionar-se torna-se a plataforma a partir da qual o autoconhecimento e o autoenfrentamento se desenvolvem. Não poderia ser diferente, uma vez que o outro é um espelho, no afetar e ser afetado das interações humanas, que aponta diretamente para nossos defeitos.

“O contato com os outros é sempre necessário. Eles podem nos espelhar onde nós estamos aprisionados, e o self precisa profundamente desta consciência do seu efeito nos outros durante seu processo de individuação.” Palestra 225 − A evolução em termos de consciência individual e grupal −, pág. 06.

 A história do Pathwork mostra que é uma marca sua desde o princípio essa matriz de gerar autoconhecimento por meio do que emerge na relação com o outro. Como vimos em postagens anteriores, já no início de seu trabalho de canalização das Palestras do Pathwork, Eva Pierrakos agregou em torno de si um núcleo de pathworkers, os pioneiros. Com o passar dos anos, gradualmente evoluiu-se para uma vibrante e razoavelmente extensa comunidade.

Há registro de algumas reuniões em que Eva canalizou palestras que chegaram a reunir mais de uma centena de pessoas. O conhecimento que o Guia gradualmente transmitia era recebido com avidez pelos membros da comunidade, que passavam a incorporar os novos conceitos em suas práticas pessoais de autoconhecimento. Mas aquela era também uma comunidade que realmente se relacionava. Eles compartilhavam experiências, vivências e trabalhavam entre si; e ainda, enfrentavam-se honestamente. Muitas são as passagens nas palestras em que o Guia comenta sobre o crescimento espiritual dos membros e da comunidade como um todo, e até sugere algumas orientações e práticas com o objetivo de ajudar a lidar com dissensões que naturalmente ocorriam entre as pessoas.

"Não é fácil pôr às claras o que essa falsidade (defeito, obstáculo) possa ser. Algumas vezes, está logo na superfície e se esclarecerá para vocês após apenas um ligeiro esforço de sua parte para querer enxergar. Outras vezes, seus blocos de defesa obscurecem a própria visão, mas ainda assim elas são óbvias para os outros, que poderiam ajudá-los, se vocês os permitissem. É por isso que o trabalho com outras pessoas é um aspecto tão importante deste Pathwork - tanto no relacionamento entre helper/aluno, quanto em grupos e em suas interações na vida cotidiana"Palestra 258 - Contato pessoal com Jesus Cristo, agressão positiva, o real significado da Salvação -, pág. 6

Assim, tal qual no seu princípio, a expressão atual do Pathwork mundo afora evidencia o caráter gregário deste caminho. Para o pathworker iniciante, este processo de fazer parte da comunidade se inicia pelo ingresso em um grupo de estudo. No grupo de Pathwork, ou na comunidade de uma forma mais ampla, a riqueza do relacionar-se é exercitada em um nível de abertura, profundidade e consciência maiores do que na maioria de nossas interações cotidianas. Vejamos esta passagem de pergunta e resposta, em que o Guia deixa este ponto muito claro: 

PERGUNTA: "Você pode comentar por favor, sobre o progresso do nosso grupo de trabalho e mostrar-nos como torná-lo uma experiência mais dinâmica para nós e que seja verdadeiramente um trabalho de grupo?"

RESPOSTA: "Sim, meu amigo. Creio que a maior parte de vocês pode começar a sentir que este grupo de trabalho é de enorme importância. Como poderiam se permitir com segurança trazer suas emoções negativas e deixá-las sair, o que seria destrutivo para um ambiente que não entende, mas que são frutíferas para os insights de todos aqui? Como poderiam se livrar da pressão das repressões? Como poderiam aprender a se comunicar no nível mais profundo do seu ser ao invés do nível superficial? Tudo isso começou e pode aumentar em anos vindouros se mantiverem isso em suas mentes. [...] O progresso dos vários grupos depende primeiramente da participação do indivíduo e de sua disposição de penetrar as defesas superficiais; sua vontade de soltar a resistência; sua vontade de ver a verdade interna; na vontade de dispensar a justificação, moralização, racionalização, intelectualizar. [...] Então quero relembrá-los, também concernente ao grupo de trabalho, aprendam mais e mais a trazer para fora seus sentimentos. Aprendam a observar suas próprias reações. Observem sua tendência de sempre explicar suas reações. Observem sua subjetividade. Gradualmente chegarão ao ponto onde serão capazes de expressarem emoções infantis, sem razão, imperfeitas, sem explicações. Somente então poderão examiná-las e compreendê-las como são. [...] Esta experiência emocional de sentir o que realmente sentem, ver pelo que é, também será a vivência do grupo de trabalho. Isto criará um relacionamento mais frutífero. Contribuirá mais para o progresso individual do que qualquer coisa que puderem imaginar neste momento". Palestra 105 - O Relacionamento do Homem com Deus nos vários estágios do seu ciclo de desenvolvimento -, pág 9.

Certamente há exceções, mas a maioria das pessoas, quando chega a um caminho de autoconhecimento como o Pathwork, se encontra em um estágio muito incipiente de autoconhecimento, com baixo ou ausente senso de autorresponsabilidade pelas expressões indesejáveis de suas vidas. Elas estão, em certa medida, cegas em relação a si mesmas, vivendo numa condição de autoalienação. Se esta é a condição interna de autoconsciência, tanto mais ― ou na mesma medida ― é a o estado de estranhamento desse indivíduo em relação ao outro, às suas realidades internas e necessidades pessoais. O indivíduo e o outro estão afastados por uma capa indevassável de segredo. Pode-se imaginar o nível de separatividade desta condição psicológica em que as outras pessoas são percebidas com medo inconsciente.

Pertencer, então, a um grupo de estudo de Pathwork, dentro de um campo de confiança, que preza pelo autoconhecimento e pela verdade, permite que as autorrevelações ― sua e dos colegas de caminho ― aconteçam; as máscaras vão sendo rasgadas e a realidade interna de cada um é gradualmente exposta. Começa-se a ser visto pelo que se é e a enxergar os outros pelo que são. O resultado é um processo crescente de identificação, confiança e proximidade em relação ao outro. A humanidade de cada um aproxima. O medo do contato, consigo ou com o outro, vai cedendo. Reconhecimentos, insights e sabedoria genuína, que vem à tona no debate e nas partilhas pessoais, começam a agregar muito ao trabalho pessoal de cada um. E, de forma recíproca, cada membro contribui para o grupo de maneiras muito particulares, únicas, o que reforça o aspecto saudável da individualidade em contraposição ao receio que se tem de se conformar com o grupo e perder a sua essência. Vivenciar este processo dentro de um grupo de estudo não é somente algo insubstituível neste caminho do Pathwork, mas é verdadeiramente um privilégio; essencialmente, é o que a alma mais anseia.

Nas próximas postagens, continuaremos aprofundando a dimensão do grupo de estudo de Pathwork, sobretudo este rico aspecto relacional que ele proporciona ao aluno.


Muita paz!


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