O Grupo de Estudo (4) - O anseio por proximidade
As palestras do Pathwork frequentemente fazem referência ao enorme o anseio que o ser humano tem por proximidade com seus irmãos. Para além das camadas de eu inferior e máscara, está o desejo e a busca da alma pelo estado de união, por pertencer a grande família universal, pelo reconhecer e ser reconhecido. Em oposição a este anseio, está o medo do contato. Esta luta primária entre a busca por maior proximidade de seus pares e o medo dela causa uma divisão imensa na personalidade das pessoas. Este dilema, por si só, explica muito da condição humana, pois a realidade nos mostra a histórica dificuldade que temos neste propósito. A alma sabe que o isolamento não é natural, e causa desconforto e sofrimento. Então, a despeito do medo, da resistência interna, a alma não deixa de tentar dar seus passos, mesmo que aparentemente muito pequenos, no sentido de expandir o contato com os outros, até que a dor ou o medo cresçam a um ponto que a faça se retirar novamente.
“A maior luta e o maior conflito do homem é seu desejo de superar o isolamento e a solidão, enquanto, ao mesmo tempo, teme o relacionamento e o contato próximo, íntimo, com outro ser. Esta contenda é tão pungente porque com frequência o desejo e o medo são igualmente intensos, de modo que o homem é puxado em direções opostas. Isso causa uma tensão tremenda. Seu sofrimento quando isolado deve sempre empurrá-lo em tentativas de superar o isolamento. Quando essas tentativas parecem ser bem-sucedidas, seu medo de tal sucesso o induz a retrair-se a afastar-se do outro. E assim segue. O homem erige e destrói as barreiras entre si e o outro.” Palestra 138 − O dilema humano entre o desejo e o medo da proximidade −, pág. 01.
O mesmo modelo de comportamento se aplica às sociedades. Se pudéssemos observar, ao longo de milênios, o desenvolvimento espiritual de um indivíduo ― um espírito ― ou do grupo da humanidade, ficaria nítido, tanto para um como para o outro, um padrão mais ou menos cíclico de movimentos de tentativa de aproximação e recuos pelo pavor que isso causa.
O anseio por união é uma força presente em cada alma |
“O medo de unir-se, encontrar-se, entrar em contato, manter um contato íntimo existe desde que a psique do indivíduo esteja negativamente direcionada. Essa longa união deve ser assustadora e se apresentar como uma questão de “mim contra o outro”. Na medida em que a profundeza da própria psique do homem é assustadora ― e ela parecerá assustadora enquanto ele se dedicar a objetivos destrutivos ― a livre autoexpressão será perigosa, o contato com os outros será perigoso, entregar-se à bem-aventurança da união deverá ser desesperadamente evitado porque ameaça eliminar o controle. Sem esse controle, os objetivos destrutivos assumem o poder e ameaçam de aniquilação.” Palestra 138 − O dilema humano entre o desejo e o medo da proximidade −, pág. 05.
O relacionamento inevitavelmente provoca e expõe o eu inferior de cada uma das partes, e isso suscita sentimentos ruins e traz conflitos. A história mostra como os conflitos, quando manifestam exteriormente o conteúdo do eu inferior, podem significar crueldade e dor incríveis. Na verdade, ainda hoje é assim, embora as manifestações mais extremas sejam agora menos frequentes e até menos intensas do que já foram no passado. Portanto, o eu inferior torna o contato tão desagradável que o isolamento é buscado como alternativa de autoproteção. Na separatividade, pode-se ter a ilusão de uma relativa harmonia. Não obstante, o que esta escolha efetivamente traz é a estagnação do eu inferior no estado em que se encontra; e, por consequência, a paralisação do processo evolutivo. Mas a estagnação, por sua vez, não pode se estender indefinidamente, pois a dor que causa vai se acumulando até tornar-se insuportável, e, em algum momento, indivíduo ou sociedade se orientam para um novo movimento de contato.
A história mostra como o ser humano e a humanidade vêm evoluindo, desde épocas remotas até os dias de hoje, de estados muito primitivos para níveis cada vez maiores de transmutação de eu inferior, expansão de consciência e união consigo e com o próximo. As idas e vindas, os avanços e os recuos, são pontos de uma espiral que sempre, de um ponto de vista espiritualmente mais elevado, avança para uma maior integração e estado de união.
Grupo: Academia de união
A explanação anterior tem o objetivo de contextualizar o fato de que um grupo de estudo de Pathwork, com a rica dinâmica que sua vivência propicia, pode ser um cadinho em que todo este processo de a alma se movimentar rumo à união tem a chance de se desenvolver com mais rapidez e com um maior nível de consciência.
No grupo, tal como no “mundo lá fora”, acessaremos nosso anseio por proximidade, bem como o medo dela. Afetaremos e seremos afetados, já que todos ali são em nada diferente de qualquer outra pessoa e interagem uns com os outros a partir de cada uma de suas partes: eu superior, eu inferior e máscara. Mas a diferença é que todos esses movimentos de alma se dão dentro de um espaço de maior honestidade, confiança, abertura e diálogo, em que as partes envolvidas em um relacionamento têm mais clareza daquilo que é sua responsabilidade nos atritos e têm mais capacidade de superá-los por meio de reconhecimentos e comunicação honesta. Tem-se a oportunidade de exercitar o “Pathwork na prática” com os colegas de jornada de uma forma nem sempre possível de se fazer com outras pessoas. E isso favorece muito a expansão da autoconsciência e a purificação de certos aspectos do eu inferior envolvidos na interação negativa.Quando se atravessam esses processos, conquista-se uma visão mais abrangente e profunda da humanidade tanto de si quanto da outra parte, vivencia-se a transformação do sentimento, antes aprisionado à intencionalidade negativa do eu inferior e, depois, já bem mais livre, conectado à construtividade do eu superior. A separatividade se transmuta a um novo lugar de aproximação com o outro.
E também podem acontecem conflitos de difícil solução, em que as pessoas envolvidas têm dificuldade em colocar toda a verdade a campo aberto e em aceitar todas as correntes de eu inferior que criaram a situação desarmônica, o que acaba por mantê-las em separatividade. Mas mesmo em casos assim, o grau de autorresponsabilidade e autoconsciência costuma levá-las para lugares internos de mais entendimento e liberdade.
O resultado mais comum de todo este processo vivido dentro de um grupo de estudo de Pathwork ao longo de vários anos é um crescente sentimento de cumplicidade, amizade e fraternidade entre seus membros. Sentimentos esses de uma profundidade pouco comum em nossas relações com outros amigos e até mesmo familiares.
“Vocês não precisam mais do grupo de uma forma debilitante; vocês precisam do grupo por amor e por um desejo de dar e receber mutuamente. Vocês compartilham e experimentam o esforço do crescimento e as alegrias da vida, a dor e o prazer de viver, e são gratos por essa riqueza da vida com outros, na qual estarem juntos não infringe de modo algum a sua privacidade, sua unicidade, a sua necessidade de estarem sós. Este tipo de relacionamento é a verdadeira intimidade.” Palestra 225 − A evolução em termos de consciência individual e grupal −, pág. 08.
Neste estágio, a abundância expressa nos relacionamentos do grupo extrapola o espaço das reuniões e se expande para a vida pessoal, enriquecendo-a imensamente. Encontros, eventos, celebrações: são muitas as oportunidades criadas para desfrutar do convívio agradável e construtivo de verdadeiros amigos, em que a natural cumplicidade criada gera um campo de relaxamento e alegria únicos.
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