O Inventário Pessoal (2) - A autobiografia

Uma excelente sugestão para iniciar o seu Inventário Pessoal é escrever uma autobiografia. A autobiografia, tal como descreveremos a seguir, é uma ferramenta poderosa para o pathworker. Por essa razão, é atividade solicitada já para o primeiro módulo do Programa Pathwork de Transformação Pessoal, etapa Facilitador (PPTP-I). O investimento de tempo neste propósito tem um ótimo retorno para o trabalho de autoconhecimento e autotransformação.

A ideia deste artigo é recomendar uma linha de conteúdo possível para a redação da autobiografia, de forma a possibilitar que informações, memórias, reflexões e conexões relevantes sobre a própria vida e personalidade sejam abordadas.

Inventário Pessoal Pathwork - Autobiografia
Escrever sua autobiografia favorece a expansão da autoconsciência

A autobiografia consiste em um relato, geralmente minucioso ― o que pode significar extenso , para o qual nos valemos de nossa memória afetiva e capacidade de reflexão para trazer à luz da consciência, e numa perspectiva ao mesmo tempo ampla e profunda, todo o contexto de nossa jornada pessoal.

Uma recomendação é começar a autobiografia a partir dos aspectos mais abrangentes que estavam presentes no início desta existência, situando e caracterizando os elementos objetivos do cenário geográfico, sociocultural e familiar em que fomos recebidos, para então, 
gradualmente, aprofundar sobre situações e relacionamentos mais específicos e os sentimentos associados a eles.

É fundamental circunstanciar quem eram os membros de seu núcleo íntimo ― pais e irmãos, principalmente, mas também, se entender que é o caso, qualquer outro parente ou pessoa próxima que, pela convivência estreita, exerceu alguma influência significativa em sua formação ―, as principais características de personalidade de cada um, como você os percebia, como era a dinâmica do relacionamento do grupo e do seu relacionamento com cada um deles.

Busque deixar muito evidente o lugar que cada membro ocupava naquele sistema familiar, o papel que representavam, os valores que os moviam e, muito importante, o conteúdo dos seus próprios sentimentos em relação a cada um deles. Inclua também nesta pesquisa os eventos marcantes que você atravessou, tais como a morte de familiares, nascimento de irmãos, situações traumáticas, e registre como eles afetaram seu campo emocional e sua vida prática.

Não tenha pressa e dedique o tempo necessário a este autoestudo. Quanto mais rica em memórias, mais a autobiografia poderá agregar em insights, autoconhecimento e expansão da autoconsciência.

A autobiografia pode ter um caráter cronológico ― do nascimento em diante , atravessando as etapas da vida. Todavia, é recomendável focar a maior parcela de sua atenção nos primeiros sete anos de sua vida, pois este é o período em que formamos, em larga medida, a estrutura de nossa personalidade e onde encontramos a origem de nossas imagens pessoais e correntes internas em distorção. A maior parte daquilo que viveremos ao longo de nossa vida tem correspondência direta com a personalidade que formamos durante os nossos primeiros anos. Nossa psique, por sua vez, é especialmente influenciada pela experiência que tivemos com nossas primeiras figuras de autoridade. Sobre isso, o Guia afirmou:

“Todos nós sabemos que as primeiras impressões da criança vêm de seu primeiro ambiente, no qual seus pais ou seus substitutos e mais quem quer que seja que tenha um papel importante na vida da criança predominam. A avaliação da criança é limitada. Portanto, a experiência emocional que recolhem de seus pais é muito distorcida. Em outras palavras, no caso mais grosseiro, emocionalmente ela pode ver seus pais como bons ou maus, fortes ou fracos, dignos de admiração ou desprezo. Mas mesmo que não seja um caso tão grosseiro, ela vê certos aspectos deles, somente algumas tendências, enquanto o resto da personalidade não é compreendido. Essas percepções limitadas falseiam a imagem. Essa imagem que vocês carregam deles, muitas vezes inconsciente ― e que pode ser o contrário de sua opinião e percepção intelectual ― influencia suas ações, rege suas reações à vida, aos outros e a você mesmo. Ela também obstrui o canal do amor, o canal que os torna capazes de amar, de ver os outros em suas realidades, de estar centrado em seu próprio eu real". Palestra 099 − Impressões falsas dos pais. Sua causa e cura −, pág. 02. 

Compreender amplamente as nossas relações parentais é, portanto, decisivo para entendermos a forma como cristalizamos a nossa percepção sobre nós mesmos, as outras pessoas e a vida. Numa etapa mais avançada e amadurecida do trabalho de autoconhecimento, será salutar retornar à autobiografia para analisar mais detidamente, num nível de percepção mais elevado e próximo da verdade, quem foram os nossos pais. Por paradoxal que isto possa parecer, é comum termos um parco conhecimento sobre suas histórias de vida e sobre o contexto emocional em que eles foram formados. 

Tal como nós, eles também têm uma história, que os marcou de maneira muito particular e que nem nos damos conta. Empenhe-se em fazer um retrato fidedigno da história de seus pais. Contextualize a vida deles com as lembranças e informações que você já possui. E busque complementar com novas informações. Investigue. Se for uma possibilidade prática e afetiva para você, converse com seu pais sobre a história de vida deles. Se o diálogo com seus pais sobre tais assuntos não for fácil e nem conveniente, ou mesmo se eles já tiverem morrido, tente conversar com parentes ou pessoas que com eles conviveram sobre aspectos de suas vidas e personalidades, sempre movido por um espírito leve e construtivo. 

Reflita ― e recorra a sua intuição ― sobre todas as informações que conseguir e ouse conceber uma imagem mais honesta dos seres humanos que eles foram de fato, e não a imagem limitada e rígida que a criança pôde criar e, depois, perpetuar em seu inconsciente. Permitir-se vencer barreiras de ressentimento ou de idealização em relação aos pais, e reconhecê-los em suas humanidades, em um nível de consciência e entendimento mais elevados, pode representar um portal para um espaço novo em nosso processo pessoal.

“O trabalho psicológico nada mais é do que encontrar a verdade sobre você e os outros. Nós discutimos muitas vezes que vocês não podem ver a verdade nos outros se não a veem em vocês mesmos. Mas algumas vezes, em certas fases desse Caminho, depois de uma certa quantidade de verdade sobre si mesmos ter se tornado consciente, ela também tem que ser atacada pelo outro lado ― isso é, a partir do desejo de ver a verdade a respeito dos outros (seus pais e irmãos, por exemplo), para obter mais verdade sobre si mesmos. O desejo de ver a verdade sobre eles, suas vidas como são, suas personalidades em sua dimensão total vão dar a vocês compreensão e insights sobre sua própria vida e o que os governa, os paralisa, o que gera conflito. Não é necessário dizer que essa compreensão é o requisito para que esses padrões improdutivos cessem". Palestra 099 − Impressões falsas dos pais. Sua causa e cura −, pág. 04.

Após superado o período da infância, é recomendável que a autobiografia siga adiante até a sua idade atual, relatando suas várias fases e experiências, padrões de criação e seus principais obstáculos e sentimentos em relação a sua expressão de vida. 

Pela abrangência de conteúdos da autobiografia, crie para ela a sequência e organização de temas que lhe parecer mais lógica. Avance, passo a passo, com as linhas gerais aqui sugeridas. Organicamente, um encadeamento adequado de ideias e assuntos surgirá em sua mente.

A escrita de sua autobiografia lhe dará a oportunidade de ampliar seu autoconhecimento de uma forma extraordinária, com repercussão positiva em todo o seu esforço no Caminho.


Muita paz!


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