O Inventário Pessoal (8) - O trabalho com Imagens

O trabalho com as imagens pessoais ― pesquisa, investigação, análise, identificação, reorientação ― é dos mais árduos que o Pathwork propõe, mas também dos mais libertadores; e, não por acaso, o Guia chamou esta empreitada de “um remédio mais forte”. Ele afirmou isso ao considerar a centralidade do dano que as imagens trazem à nossa vida e a libertação pessoal e espiritual que a eventual dissolução ― total ou parcial ― delas, por meio deste trabalho, nos causa.

O início de um trabalho com as imagens pessoais requer que alguns passos no Pathwork pessoal já tenham sido dados. É preciso, por exemplo, alguma base de autoconhecimento já consolidada e uma compreensão dos principais conceitos relacionados a este estudo. Isto ocorre após algum tempo de dedicação a outros aspectos do Pathwork pessoal. O pathworker alcançará a percepção desta maturidade em si , e saberá o momento em que estará preparado para começar a investigar suas imagens pessoais.

Para situar as características e fases deste trabalho prático ― nosso objetivo ―, é preciso antes uma breve conceituação do que são as imagens.

O que são Imagens, segundo o Pathwork?


Todos formamos ao longo da vida (e em vidas pretéritas também) impressões ― ou conclusões ― sobre determinados aspectos da “realidade” em decorrência de como percebemos o ambiente exterior ou determinados eventos específicos ocorridos conosco. Devido à nossa lógica limitada e falha, essas impressões tornam-se conclusões rígidas e erradas sobre a realidade. Quando não enfrentadas, questionadas e elaboradas adequadamente, elas mergulham para o inconsciente, de onde moldam muito de nossa vida, que é absolutamente autocriada. O Guia chama essas impressões errôneas inconscientes de “imagens”.

Imagem Pessoal Pathwork
"Imagens" nos aprisionam em uma irrealidade sempre degradante para o self.

Imagens têm sempre um caráter negativo e distorcido. Elas expressam uma visão rígida e errada sobre a própria pessoa, os outros, a vida, Deus etc. Imagens são irrealidade e fruto de ignorância e percepção limitada. Todos os sentimentos, pensamentos e emoções associados a um campo da vida sob o efeito de uma imagem ficam num estado de estagnação e congestão. O inverso acontece nas áreas do self não influenciadas por imagens: há flexibilidade, relaxamento, fluidez e adaptação à realidade e necessidades do momento.

Um importante indício de que há uma ou mais imagens ativas em nossa personalidade é a dificuldade para avançar na autotransformação, apesar de toda a nossa persistência e boa vontade no trabalho pessoal. Outro indício é um padrão repetitivo de reação emocional a algumas situações ou até mesmo a repetição de certos incidentes em nossa vida. O poder criador do inconsciente, seja para o bem ou para o mal, é muito maior do que o de nossa mente consciente, que geralmente se orienta para propósitos e desejos mais construtivos para o self. Portanto, a saída para esta cilada inconsciente é trazer à luz da consciência as nossas imagens, por meio de um processo diligente de investigação pessoal; e depois, outra extensa etapa de trabalho de reorientação e dissolução delas.

“Você tem o poder de mudar sua vida inteiramente, mas não poderá fazê-lo mudando meramente de forma superficial, tentando somente alterar suas ações. Isto só pode ser feito se você buscar primeiramente as causas internas, as conclusões erradas, enfim, as suas imagens.” Palestra 040 − Descobrindo mais sobre imagens. Sumário −, pág. 02.

Iniciamos afirmando que este é um trabalho árduo. A principal barreira a ser superada é abandonar a projeção de culpa e o vitimismo. A noção de autorresponsabilidade total pela criação de nossa vida é o primeiro requisito que precisa ser satisfeito. Outras dificuldades são o esforço pessoal, em coragem e disciplina, para mergulhar fundo na análise de nossa mente inconsciente. Haverá momentos em que, por trazer à consciência tantos conteúdos, nossa condição emocional parecerá estar piorando. Natural que isso nos leve a atravessar períodos de ansiedade e até depressão. O Guia afirma que este aparente declínio é, na verdade, um necessário portal para nossa autêntica ascensão espiritual. Em suma, purificação em andamento.

“A única maneira pela qual vocês podem atingir essa liberdade que tanto buscam é mergulhar em si mesmos. Dessa forma, vocês passam por um túnel de escuridão e emergem do outro lado para encontrarem a luz da verdadeira independência. Somente após terem reconhecido sua própria responsabilidade por sua escuridão enquanto passam pelo túnel ― o que não é uma experiência fácil ―, vocês terão verdadeiramente ganho a real independência. Por isso, não busquem essa libertação externamente. Isso será em vão. Aquele que não tiver encontrado e dissolvido suas imagens ficará emaranhado.” Palestra 041 – Imagens: o dano que causam −, pág. 01.

Embora situações específicas desta vida possam gerar imagens pessoais completamente novas, a maioria de nossas imagens têm origem cármica, ou seja, foram formadas em vidas pretéritas. Suas origens nesta vida, todavia, podem ser rastreadas por meio da autoinvestigação. Seria salutar saber o que causou e como foram formadas as imagens em vidas passadas, no entanto, este conhecimento é praticamente inacessível para a maioria de nós, e já é suficiente que busquemos a origem delas na existência atual para que um tratamento adequado seja feito. As imagens que não dissolvermos nesta existência serão inevitavelmente carregadas para a próxima.

Como trabalhar com as suas Imagens


A seguir estão relacionadas as etapas do trabalho com as imagens. Apesar de haver uma sequência peculiar à natureza desta investigação ― que perpassa a identificação, a análise, a reorientação e, eventualmente, dissolução das imagens ―, estas etapas podem, como se pode conceber, sobrepor e acrescentar uma a outra. A natureza espiralada do caminho não poderia deixar de estar presente aqui também.

  • Rememore sua vida e registre suas feridas, seus conflitos, seus problemas, suas idiossincrasias pessoais, seus preconceitos. Seja específico, anote o contexto em que isso tudo aconteceu e quais foram as suas reações. A autobiografia feita da forma como descrito noutro artigo da dimensão "Inventário Pessoal" neste blogue pode abranger, em boa medida, o escopo desta etapa, mas não completamente. Muitas outras situações específicas de vida e características de personalidade, que passaram ao largo do foco daquele trabalho, podem merecer a devida análise para compor o mapa ainda mais definido que o trabalho com as imagens pede. Dessa forma, a autobiografa, se já realizada, pode ser usada como base deste trabalho, aprofundada e complementada;

“Escreva-os. Inclua todos os tipos de problema. Não é possível fazê-lo se não tiver o trabalho de colocar tudo no papel, preto no branco, concisamente. Pois, se vocês simplesmente pensarem sobre eles, não terão uma visão geral necessária para a comparação. Este trabalho escrito é essencial. Certamente que isto não é pedir muito. Não tem que ser feito em um dia. Faça com tempo, mesmo que demore meses. É melhor fazê-lo lentamente do que não começar.” Palestra 038 − Imagens −, pág. 04.

  • Repasse esses registros juntamente com as autoanálises feitas acerca de seus já reconhecidos defeitos, medos. Busque, então, encontrar denominadores comuns. Evite desmerecer algum evento ou reação, pois não há nada de verdadeiramente significativo e marcante que nos aconteça que esteja desconectado, de alguma maneira, de nossas imagens;

“Você poderá então ver a conexão entre sua imagem e um acontecimento que pareceu aleatório em sua vida, como uma completa coincidência. O alívio deve acontecer porque a partir do momento em que compreende como você direcionou sua vida, como você causou eventos dos quais acreditava ser vítima, contará com a certeza de que não é um pequeno barco à deriva em um enorme oceano tempestuoso, sendo atirado a esmo pelos ventos. Você se dará conta de que não existe injustiça, o que o tornará forte e seguro.” Palestra 041 − Imagens: o dano que causam −, pág. 06. 

  • Verifique como tais padrões de reação ou de repetição de eventos se relacionam com defeitos pessoais. Atenção especial com o reconhecimento de defeitos internos que ainda não haviam sido identificados e que, aparentemente, pareçam estar em contradição com sua imagem de si mesmo. Temos vários níveis de consciência e, por exemplo, a expressão de coragem no nível exterior não significa que não possa haver uma importante corrente de covardia alojada em alguma parte de nosso inconsciente. Tente analisar tudo com um olhar não condicionado pelas convicções que ainda mantém acerca de si mesmo. Acredite, você poderá fazer reconhecimentos novos e surpreendentes sobre si mesmo;
  • Encontre a expressão de orgulho que sempre existe na raiz das imagens e tente formular a sua voz. De que forma existe revolta e defesa contra as agruras da vida, seus riscos e suas dores?;
  • Reflita profundamente sobre o teor de cada reconhecimento e como isso tem influenciado a sua vida. Exponha, então, sua falsa premissa, confrontando-a com a lei divina. Deixe evidente para você mesmo que a imagem criada supostamente para lhe defender de algum sofrimento, não apenas não consegue evitá-lo como o aprofunda de várias maneiras;

“É muito importante, meus amigos, que considerem suas imagens deste ponto de vista! Pergunte-se: ‘por que eu a construí? Em que situação? Do que queria me proteger? Como funcionou na realidade? Como teria funcionado se eu não tivesse adotado esta medida falsa, supostamente protetora ― esta imagem?’” Palestra 040 − Descobrindo mais sobre imagens. Sumário −, pág. 04.

  • Em meditação, busque acessar as emoções primárias que desencadearam a formação da imagem e ouse experimentar novamente os sentimentos reprimidos, fazendo-os recircular pelo seu sistema emocional. Nesse mesmo nível de consciência, e em meditação, busque educar esta área aprisionada e infantilizada com a impressão de conceitos verdadeiros e realistas, e pela visualização de um novo padrão de comportamento construtivo que faça sentido para você. Lembre-se, esta etapa não é um evento, mas um processo;

“Não é suficiente ter conhecimento interior das tendências e reações ocultas e parar por aí. O trabalho só começa depois desse reconhecimento ― e esse trabalho é a meditação profunda, no nível que vocês descobriram. Caso contrário, vocês vão reter o que conquistaram, mas aos poucos esse conhecimento vai se tornar algo cada vez mais distante e permanecer na sua mente como algo teórico, enquanto, no fundo, vocês continuam reagindo como antes, sem conseguir integrar e unificar as reações emocionais e conclusões interiores erradas.” Palestra 039 − Descobrindo imagens −, pág. 04.

  • Trabalhe sua paciência e autoaceitação. A transformação é um processo orgânico, que pode levar um tempo bastante considerável. Ore a Deus e peça luz para ampliar seu entendimento acerca de sua realidade interna e força para perseverar em seu trabalho pessoal de autoconhecimento e autotransformação;
  • O Guia sugere que, se possível, você se reúna com um ou mais de seus colegas de Pathwork e formem um time especificamente para trocar impressões sobre suas imagens, as associações que puderam ser feitas e o trabalho que têm desenvolvido no intuito de dissolvê-las. Abrir-se para outra pessoa e ouvir seu ponto de vista pode ser de grande ajuda neste processo.
O trabalho com as Imagens pessoais é um processo naturalmente lento, mas transformador se atravessado. O roteiro entregue pelo Guia é exigente. Autoconhecimento e autotransformação, como ele afirma, são alcançados com esforço. Um esforço que alguns podem acreditar excessivo, inviável, mas o grau de libertação resultante o faz parecer proporcionalmente pequeno, o melhor investimento dos recursos da alma que alguém pode escolher.  

Muita paz!

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