O Inventário Pessoal (6) - As áreas irrealizadas da vida

 A bastante lembrada afirmação de Jesus "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8:32) remete a duas ideias muito caras ao método Pathwork: autoconhecimento e autotransformação. O primeiro é colocado como condição para a segunda. Buscamos autoconhecimento não exatamente como um fim em si mesmo, mas para nos habilitar a melhorar a nossa condição humana  autotransformação. Queremos ser felizes, amar e ser amados, ter uma boa relação com as pessoas e com a vida, expressar talento e qualquer outro propósito construtivo que se possa pensar ou necessitar. 

A realidade, no entanto, é que cada pessoa muito provavelmente lida com impedimentos internos para uma expressão realizada de vida. Vejamos este trecho bastante esclarecedor:

"A maioria dos seres humanos tem algumas áreas onde se sentem ricos e algumas onde se sentem empobrecidos e, portanto, carentes. Esses sentimentos raramente correspondem à situação real. Assim, procurem descobrir as áreas onde se sentem ricos e onde se sentem pobres. Talvez se sintam ricos por terem alguns talentos criativos onde se sentem completamente confiantes e onde percebem que possuem essa abundância ilimitada em seu próprio interior. Seu interior que é como um córrego que jamais deixa de fluir. Mas, ao mesmo tempo, talvez se sintam pobres em relação à possibilidade de conseguir encontrar a verdadeira mutualidade. Outra pessoa pode se sentir segura nessa área, mas cheia de dúvidas sobre se algum dia terá abundância e segurança no plano financeiro. Agora, todos vocês já sabem como procurar pelas concepções equivocadas, pela intencionalidade negativa e pelas atitudes destrutivas que devem estar por baixo dessa condição bloqueada. Vocês devem ter bem claro onde se sentem ricos e onde se sentem pobres. Onde se sentem ricos serão sempre ricos porque aí também devem ter uma atitude doadora e honesta. Mas onde se sentem pobres, continuarão a ser pobres até que criem sua própria riqueza pela entrega e pela honestidade". Palestra 213 − Significado espiritual e prático do "Deixe estar, deixe nas mãos de Deus"−, pág. 07.

O estudo sobre as áreas irrealizadas de nossa vida é, portanto, uma 
prática que está perfeitamente alinhada com o autoenfrentamento honesto que o Guia reputa como fundamental para a construção do autoconhecimento.

Trata-se de selecionar, como mencionado, partes da vida que são fonte de aguda frustração e colocar uma atenção ao mesmo tempo específica e abrangente sobre elas. Relacionamentos afetivos, expressão pessoal ou profissional, relação com o dinheiro, sexualidade... há muitos aspectos da vida que podem nos frustrar com uma manifestação insatisfatória. A sugestão é colocar o foco em um aspecto desse por vez, e escrever livremente ― e se preciso, longamente ― sobre ele, visando esgotar seu conteúdo interno sobre o assunto, não deixando de fora qualquer consideração e associação existente em seu sistema mental e emocional. Aborde o histórico vivido nessa dimensão de sua vida, as estratégias que você adotou para lidar com a dificuldade, qual é a voz do "não" interno à realização, qual o medo subjacente. Superada a resistência inicial, a investigação que segue pode ser rica e muito interessante de empreender. 

As áreas irrealizadas da vida - Pathwork
Toda irrealização é autocriada. Você está disposto a conhecer as causas?

Que não haja pressa nem ansiedade. O inventário pessoal é como um pequeno templo que construímos tijolo a tijolo, por muitos anos, desfrutando o processo. Esse esforço analítico certamente ajudará a discernir com muito mais clareza quais são as correntes internas que criam o bloqueio da expressão e, consequentemente, a irrealização. Estamos falando de imagens pessoais ou de massa, intencionalidade negativa, hipocrisia, avareza, para mencionar algumas correntes possíveis. 

É provável que muitas correntes investigadas em outras partes do inventário pessoal também aparecerão neste relato ― medos, imagens, intencionalidades negativas, etc. ―, mas não se preocupe com a "duplicidade" de abordagem, que pode sugerir algo repetitivo e que desperdiça tempo. O trabalho de autoconhecimento opera dessa forma mesmo. É uma oportunidade de olhar para a distorção por outro ângulo e observar como ela eventualmente repercute por nossa personalidade. Reencontrar estas distorções no inventário pessoal ajuda a formar uma visão sistêmica de si mesmo. Quando se consegue criar um mapa dessas correntes de distorção que atuam em níveis distintos da personalidade, somos capazes de identificar melhor como interagem entre si, geram irrealidade e criam os efeitos desagradáveis em nossa vida. 

Este é um tipo de estudo que traz muita clareza sobre como criamos nossa realidade e, por causa desse encontro com a verdade do que é no momento, traz enorme alívio. É um exercício de autorresponsabilidade. De imediato, algumas “portas” internas se abrirão, e isso possibilitará mudanças de atitudes e ressignificações importantes nestas áreas irrealizadas. 

Muita paz!






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