O Inventário Pessoal (4) - Entrevista com pessoas próximas

Todo o esforço no autoconhecimento se paga com um bônus muitíssimo generoso. A auto-observação constante amplia gradativamente nossa autoconsciência. É um processo que torna maior e mais nítido o mapa conhecido de quem somos  nossa história, nossas correntes internas, defeitos e qualidades, motivações etc. Ainda assim, temos muitos pontos cegos sobre nós próprios. Mesmo aquelas correntes internas sobre as quais já nos debruçamos em observação e reflexão honestas podem deixar para trás lacunas despercebidas. Ampliamos, mas nossa autopercepção permanece, de alguma forma, limitada.

Um método bastante eficaz para nos apropriamos destas lacunas de autoconhecimento é a realização de "entrevistas" com pessoas próximas. Costumamos subestimar o valor que o ponto de vista externo sobre nós pode nos trazer. Vamos usar uma metáfora para melhor explicar a situação.

Imagine que você seja um aventureiro desbravando um enorme e profundo vale, cortado por um rio e repleto de mata fechada. Você enfrenta aquele vale com coragem, munido de equipamentos, e até com uma boa noção de direção e estratégia para atravessá-lo. E, de fato, superando obstáculos, perigos, tropeços e alguns arranhões, você progride no caminho. Agora, imagine que um amigo seu está localizado no alto de uma montanha que margeia o vale, em ponto de visão privilegiado para toda a região abaixo. Lá de cima, por qualquer meio de comunicação, ele poderia ser capaz de visualizar clareiras na mata, pontos com boa indicação para pesca ou coleta de frutos, lugar apropriado para acampar e pernoitar, alertar sobre algum animal selvagem de maior porte ou obstáculo físico à frente. A oportunidade de receber tais informações seria de grande valia para o êxito da sua empreitada. Certamente aumentariam suas chances de completar a aventura com segurança e com uma melhor experiência.  

As pessoas têm sobre nós este ponto de vista privilegiado. Obvio que elas não têm acesso à vastidão de nosso universo interior, mas, para usar um termo atual, elas têm "lugar de fala" sobre como certas correntes de nossa expressão pessoal as afeta emocionalmente. E isso é uma grande oportunidade para o nosso autoconhecimento.

A proposta então é a seguinte: entreviste algumas pessoas que realmente o conheçam muito bem sobre quais defeitos e qualidades elas enxergam em você. Pode ser um pouco constrangedor fazer este pedido a alguém, mas sua intuição saberá lhe guiar para pessoas com perfil adequado para este propósito. Deixe claro que elas poderão lhe falar o que quiserem, pois você quer usar tudo como insumo para se conhecer e se tornar uma pessoa melhor, e poderá lidar com comentários ruins ou que pareçam até injustos. 

Entrevista Pathwork - Inventário Pessoal
Uma conversa honesta sobre sua personalidade com alguém próximo e confiável pode ser valioso para o autoconhecimento.

Colegas de Caminho, quando estamos em uma comunidade, fazem isso. De certa maneira, fazemos isso uns com os outros, pois este tipo de troca interpessoal honesta é parte integrante do "fazer Pathwork". Mas, para este autoestudo em particular, será muito recomendável acessar familiares e amigos íntimos que, devido a um extenso convívio, nas situações mais distintas, podem apontar características suas que serão essenciais para o seu autoconhecimento.

Não importa que estas pessoas não estejam em um caminho pessoal de autoconhecimento, que não sejam buscadoras como você. Se você lhes explicar o propósito construtivo por detrás do seu pedido, elas poderão lhe presentear com percepções muito significativas acerca de suas características de personalidade e reações emocionais, sobre cuja existência e forma de expressão você pode estar vagamente ciente ou até completamente alheio.

Esta clara comunicação do propósito, a partir do eu superior, é a chave. O entrevistado pode, eventualmente, não escolher as palavras mais adequadas para expressar o que pensa. Em tal caso, peça esclarecimento sobre o conteúdo, a abrangência daquilo que lhe é dito sobre você, mas sobretudo, escute, acolha e não retruque. Por fim, agradeça sinceramente ao seu entrevistado e dedique-se a registrar e analisar o que lhe foi revelado. Até as críticas que lhe parecerem mais injustas podem ter um “grão de mostarda” de verdade, que pode ser um reconhecimento precioso, seja ele da expressão do seu eu superior ou eu inferior. O mais frequente, todavia, é que a maioria daquilo que os entrevistados dizem acerca de você não lhe seja exatamente novo, no entanto, as nuances, a ênfase da expressão, a visão de como isso os afeta levam o reconhecimento destas correntes internas para um patamar mais elevado, o que fará muita diferença.

Sobre a lista de qualidades e defeitos feita por você mesmo e as qualidades e defeitos que os seus entrevistados enxergam em você, o Guia sugere, na passagem abaixo, o seguinte trabalho:

“E comecem também a fazer o seu próprio ‘inventário’. Depois de terem feito o melhor que puderem a este respeito, perguntem a alguém que os conheça realmente bem e comparem isso com suas próprias descobertas. Complementem essa lista, acrescentem detalhes a ela. Levem tudo isso a Deus em suas preces diárias para ajudá-los a ir mais longe. Este é um maravilhoso começo para todos, e esses esforços não serão em vão. Isso eu posso prometer a vocês.” Palestra 026 − Descobrindo os próprios defeitos −, pág. 07.
  
Esta prática de entrevista aqui proposta, parte integrante do nosso inventário pessoal, ajudará a validar pontos já reconhecidos por nós mesmos e a incluir em nosso foco alguns aspectos de nossa distorção até então total ou parcialmente negligenciados. Isso permitirá que direcionemos melhor os nossos esforços de autodesenvolvimento. Com uma visão mais empática, conhecedora de como afetamos as outras pessoas, podemos com maior consciência escolher regular aspectos de nosso comportamento e expressão pessoal. Com o campo novo que se abre, injetamos novo ânimo para o trabalho que precisamos fazer conosco mesmos. Saber que estamos nos desenvolvendo, nos purificando, renova nossa energia vital e o nosso compromisso em perseverar neste Caminho. 


Muita paz!








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