O Inventário Pessoal (9) - A imagem pessoal de Deus
O Guia do Pathwork dedicou a palestra 52 exclusivamente à Imagem de Deus, mas a aborda, de maneira mais ou menos específica, em várias outras. Nesta palestra, ele afirma:
"É muito importante, meus amigos, descobrir qual é a sua imagem de Deus. Ela é básica e determina todas as outras atitudes, outras imagens e padrões no decorrer de toda a vida. Portanto, todos vocês devem examinar essa atitude, que pode estar profundamente oculta em vocês. Não se deixem enganar por suas convicções conscientes. Em vez disso, tentem examinar e analisar suas reações emocionais à autoridade, aos seus pais, a seus medos e expectativas. Partindo daí, vocês descobrirão gradualmente o que sentem em relação à Deus, em vez daquilo que pensam. Toda a escala entre esses dois polos opostos se reflete em sua imagem de Deus, desde desesperança e desespero na convicção emocional de um universo injusto, até a permissividade, rejeição da autorresponsabilidade e expectativa de um Deus que supostamente deva mimá-lo". Palestra 052 − A Imagem de Deus −, pág. 03.
O que é a Imagem de Deus?
As escrituras sagradas nos ensinam que é proibido a criação de uma imagem de Deus. Por exemplo, Êxodo 20:4 diz: “Não farás para ti escultura, nem imagem alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo sobre a terra, ou nas águas debaixo da terra”. Há outras citações de teor semelhante. Mais do que não fazer esculturas ou figuras de Deus, há um sentido maior ― e pouco considerado! ―, que é não fazer uma imagem interna e distorcida de Deus ― nossa autoridade máxima ― em decorrência de nossas distorções, limitações de percepção e de experiência.
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O Tetragrama, geralmente não pronunciado diretamente, é o conjunto das quatro letras hebraicas que formam o nome de Deus na tradição judaica. |
A criança, desde muito cedo, tem a experiência de lidar com a autoridade dos pais. Esta experiência pode ser muito desagradável, dura e, frequentemente, um empecilho ao desfrute do prazer. Essa imposição de autoridade dos pais sobre os filhos pode muitas vezes ser correta e necessária para o bem-estar da criança e para a sua educação, mas também pode, em função das distorções e limitações humanas dos pais, ser excessiva e baseada em medo e ignorância. Como o conceito de Deus como autoridade máxima surge bem cedo em nossa infância, é quase natural que a criança projete em Deus muito daquilo que sente na relação com suas autoridades mais imediatas: os pais.
São muitas as expressões de autoridade. De uma forma muito simplificada, se a expressão de autoridade for excessiva em agressividade e com muita imposição de limites, a criança terá sentimentos de frustração ou medo, criando a imagem de uma autoridade hostil. Por outro lado, se muito indulgente e acolhedora, causará nela a imagem de uma autoridade benigna. Como geralmente a criança tem experiência com vários tipos de autoridade, até mesmo vindos do mesmo pai em momentos distintos, a imagem de Deus que ela cria será uma síntese de sua experiência total com a autoridade dos pais, prevalecendo, mais comumente, a marca da reação à expressão de autoridade predominante, que mais a afetou internamente. Mas ocorre também de, devido a características muito pessoais, a alma ser mais afetada por uma manifestação de autoridade que, no ambiente familiar, era menos predominante, mas que acabou lhe causando uma impressão mais profunda na substância da alma.
Há também os eventos de injustiça praticados por alguma autoridade ― pais ou outra figura de autoridade qualquer ―, aos quais todos estamos sujeitos a experimentar ao longo da vida. Tudo isso pode se juntar, então, para criar a muito comum imagem de um Deus injusto, punitivo, hostil, indiferente etc., que se assemelha muito mais à imagem de um monstro ou de um diabo.
A outra possibilidade, a de a criança ter pais de comportamento majoritariamente “bonzinho”, indulgente e que exige menos da criança a criação de um senso de autorresponsabilidade, também gera problemas. Nesse caso, a imagem de Deus criada parecerá, em princípio, mais próxima da realidade de Deus: misericordioso, amoroso, compreensivo, “bom”... Isso pode levar esta criança, que certamente terá menos medo em sua alma, a achar que tudo pode, com pouca ou nenhuma consequência. Mas seu conceito de Deus não corresponde ao Deus que É, e a conduta errônea infalivelmente produzirá conflitos que deixarão a alma confusa.
Uma imagem de Deus do primeiro tipo ― Deus severo e punitivo ― pode nos levar a um afastamento inconsciente dele. Essa é uma das principais causas do ateísmo; cujo oposto, igualmente errado, é a submissão a essa mesma imagem de Deus de uma maneira dependente, fraca, medrosa e rogatória.
Como trabalhar com a sua Imagem de Deus
Estão relacionadas abaixo as etapas do trabalho de identificação
e dissolução da imagem de Deus:
▪
Primeiramente, vem a fase de
investigação de qual é a nossa imagem de Deus particular, para a qual devemos
proceder de forma semelhante aos primeiros passos descritos no artigo anterior ― As Imagens Pessoais. Cuide de analisar todas as possibilidades, sem
descartar nem pular para conclusões precipitadas. As possibilidades são muitas
e são intrincadas. Até mesmo figuras alternativas aos pais, como um professor,
um avô ou irmão mais velho, podem exercer sobre a criança em formação um tipo
de autoridade diferente da dos pais, que poderá deixar uma marca relevante em
sua personalidade. O resultado desta investigação será um senso muito mais
claro de como você sente Deus, em
vez de como você O concebe intelectualmente;
▪
O próximo passo é tornar claro à
consciência o erro do conceito e das emoções inconscientes que formam a imagem
de Deus, compreendendo o efeito danoso que têm sobre os vários níveis do seu
ser e, consequentemente, sobre a criação de sua própria vida;
▪
Busque, então, reorientar os conceitos
mentais e intelectuais que ainda possam estar convencidos de que a premissa da
imagem é correta. É importante formular conceitos corretos sobre a matéria.
Meditação e oração são práticas muito úteis para isso. Nunca deve haver
superposição de conceitos. Compare as premissas distorcidas da imagem com os
conceitos realistas sobre Deus e sua relação com ele que você pôde alcançar
tanto por meio da razão quanto por meio de um processo intuitivo interno. A
paciência é importante para que a reorientação, tanto dos conceitos
intelectuais quanto das emoções, ocorra de forma orgânica. Adquirir um conceito
realista ― intelectual e emocional ― de Deus é uma tarefa difícil, e isto
acontece por um princípio das leis de Deus, já que esta é uma das conquistas
mais caras e preciosas que podemos ter;
▪
Outro aspecto do trabalho deve ser tirar
o foco de projetar culpa no outro e assumir plena consciência de que a vida é
absolutamente autocriada. Nem as outras pessoas e nem Deus são responsáveis
pela miséria pessoal que nosso egoísmo, medo, orgulho, ignorância nos causam. A
origem de tudo ― tudo mesmo ― que nos acontece está dentro de nós; Se medo ou
culpa ainda significam obstáculo ao seu honesto autoenfrentamento, então será
preciso trabalhar nestes aspectos;
▪ Por fim, há um exercício, ao mesmo tempo intelectual e emocional, que de certa maneira integra muito das duas etapas citadas anteriormente; ou seja, um conceito realista do “Deus que É” e o sentido de total autorresponsabilidade pela própria vida. Trata-se de assimilar a ideia de que a força vital que Deus é ― e seu imenso poder criativo ― está em todos nós. Essa força vital, como a energia elétrica, por exemplo, pode ser usada tanto construtivamente quanto negativamente. Pode curar ou pode matar. Mas nessa força vital, e nas leis de Deus, estão uma expressão de Seu infinito amor e sabedoria. As leis de Deus atuam de maneira automática, impessoal ― desde que foram criadas por Ele ―, com o exclusivo objetivo de nos levar para a luz e para a verdade. Podemos escolher abusar e nos afastar de Sua lei e com isso criar miséria em nossa vida. É uma escolha. Trata-se de livre-arbítrio concebido e permitido por Deus e contido nas leis criadas por Ele. E a nosso critério, podemos escolher alinhar a força vital em nós às leis de Deus. A visão de Deus como o grande poder criativo à nossa disposição serve melhor a esse trabalho de reconhecimento das relações de causa e efeito pessoais e dissolução da imagem de Deus do que o conceito de um Deus pessoal. Deus também tem sua dimensão pessoal, mas essa visão Dele como poder criativo ajuda-nos a gerar autorresponsabilidade e a buscar estar alinhado às Suas leis perfeitas, automáticas e impessoais.
Um trabalho pessoal que se paute por este norte dissolverá infalivelmente a imagem de Deus, seja ela qual for. E tal se dará quando se conseguir colocar cada autoridade interna no seu devido lugar: pai no lugar do pai, mãe no lugar da mãe, qualquer outra pessoa que sobre nós exerceu relevante autoridade no lugar que lhe cabe, e Deus no lugar de Deus. Temos então a oportunidade de perceber Deus não mais de uma forma distorcida, mas mais próxima da Sua realidade e mais acessível em nosso universo interior.
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