O Inventário Pessoal (13) - O registro e a análise de sonhos (o caderno de sonhos)

Chegamos a um estágio de nosso inventário pessoal em que podemos trabalhar num nível muito profundo de nossa psique, com potencial de ampliar ainda mais nosso processo de autoconhecimento e autotransformação. Falamos do conteúdo inconsciente acessível por meio de nossos sonhos.

Psicólogos, místicos e espiritualistas reconhecem que os sonhos são uma janela direta para o inconsciente. Durante o sono, a alma pode se conectar com conteúdos, recursos e dimensões mais profundas e expandidas do self que estão normalmente inacessíveis no estado de vigília.

Registro de Sonhos segundo o Pathwork
O registro e a interpretação do sonhos é um portal para autoconhecimento eficaz

O inconsciente, e sua expressão por meio dos sonhos, tem uma linguagem própria. Trata-se de uma linguagem simbólica, autorreferenciada. Esta é uma linguagem que necessita ser aprendida, da mesma forma com que colocamos esforço para aprender línguas novas além de nossa língua materna. Neste caso, apreender a língua do inconsciente nos traz benefícios muito superiores do que dominar uma segunda língua humana (algo que é sabidamente muito útil e enriquecedor).
 
Sonhos expressam, em sua linguagem peculiar, aspectos de nossas emoções, nossos desejos mais inconfessáveis, e nuances de nossos medos, os conhecidos e os desconhecidos. Os sonhos nos permitem decifrar aquilo que reprimimos, e podem trazer mensagens ou percepções para situações que vivenciamos. Eles fazem emergir — inicialmente de forma encoberta, mas passível de interpretação — aspectos de nossa personalidade que negligenciamos, não processamos e decididamente reprimimos. 

Sobre a linguagem do inconsciente, que é a linguagem do mundo espiritual, o Guia afirmou:

"[...] a linguagem do mundo espiritual é uma linguagem pictórica. Quando estão no estado humano, acostumados a um modo de expressão completamente diferente, o simbolismo das figuras é algo que vocês têm de traduzir. Essa, aliás, é uma das razões pelas quais é tão difícil para um espírito se expressar em linguagem humana. É uma limitação. Imaginem isto no sentido de traduzir um texto de uma língua estrangeira. Se não conhecem muito bem aquela língua e têm que traduzir o significado para a língua que conhecem bem, às vezes pode ser uma tarefa difícil, trabalhosa. Requer esforço. Vocês têm que pensar. Talvez tenham que procurar uma palavra no dicionário. Aqui também está a dificuldade. O fenômeno em si não é confuso. Na verdade, é muito menos confuso do que a linguagem humana, que é muito mais limitada"Palestra 076  Perguntas e respostas , pág. 11. 

Aproveitar os sonhos para o trabalho pessoal pode ser, portanto, um empreendimento desafiador, por duas razões: a primeira é o nosso já mencionado despreparo para compreender a sua linguagem simbólica. Isto precisa ser aprendido e a expansão do autoconhecimento por outros meios certamente também ajudará na assimilação da linguagem do inconsciente. A segunda razão é o caráter fugidio dos sonhos, cujo conteúdo nos escapa como água entre os dedos, rapidamente, nos deixando sem tempo hábil para conservá-los para análise posterior. 

Talvez por esses obstáculos, muito poucas pessoas consigam trabalhar efetivamente com o conteúdo de seus sonhos para aprofundar o autoconhecimento. 

A recomendação para lidar de forma eficiente com estas dificuldades e prosperar na autoinvestigação por meio dos próprios sonhos é utilizar um caderno para registrá-los tão logo despertemos. Mantenha um caderno ou caderneta ao seu alcance, próximo à cama (cabeceira, gaveteiro, etc.), para registro, de forma expedita, dos conteúdos dos sonhos tidos que lhe parecerem mais prementes de significado. Esta prática, simultaneamente, guardará o material mais significativo e permitirá, ao longo do tempo, aprender mais do funcionamento da linguagem simbólica do inconsciente. Além disso, quanto mais registramos nossos sonhos, mais nossa mente se acostuma a recordá-los, mais associações seremos capazes de fazer. 

O Guia do Pathwork recomenda que levemos nossos sonhos mais relevantes ao nosso helper, para que alguém mais experimentado, e a partir de um ponto de vista mais elevado e neutro, auxilie na sua interpretação e na elaboração dos possíveis significados que se pode discernir para enriquecimento do trabalho pessoal. Essa recomendação parte de pressuposto de que a autointerpretação de sonhos, sem a devida maturidade emocional e preparação pessoal na técnica, pode ser inviável, ou levar a autoenganos.

Um ponto de vista externo e treinado para isto nos auxilia a enxergar certos aspectos de nosso inconsciente de difícil identificação por nós mesmos. Até que alcancemos maior maturidade nesse processo, um helper será importante para nos ajudar a explorar os conteúdos de nossos sonhos de forma mais aprofundada e precisa. Sobre isso o Guia reiterou:

"Se quiser de fato saber a verdade sobre seus sonhos, se despender tempo e esforço necessários, chegará lá, muitas vezes sozinho. Em outras ocasiões, precisará de ajuda. Mas se realmente quiser conhecer seu eu mais profundo, não deve recusar a possibilidade de receber essa ajuda, que o guiará. Como digo muitas vezes, o verdadeiro trabalho de autoconhecimento não pode ser feito pela pessoa sozinha. Isso não se aplica apenas à interpretação de sonhos. Mas a maioria das pessoas não quer se conhecer. Colocam fora da visão, tudo que possa dar-lhes compreensão mais profunda de si mesmas, seja um sonho ou outra indicação de suas reações conscientes diárias". Palestra 080  Cooperação, comunicação, união , pág. 09. 

Dessa forma, a manutenção dessas anotações em um caderno ao longo dos anos ajudará na qualidade dos registros dos sonhos que levamos para escrutínio conjunto com nosso helper ou terapeuta. E, por outro lado, também permitirá que desenvolvamos uma gradual familiarização com a “linguagem” de nosso inconsciente.

Gradualmente, com o amadurecimento do todo o trabalho pessoal de autoconhecimento, será possível que possamos fazer, por nós mesmos, interpretações competentes e seguras sobre vários conteúdos de nossos sonhos. Essa será uma habilidade adquirida por meio da contínua atenção a este trabalho específico. Esta autonomia é uma conquista que vem com o tempo e resultado de um trabalho eficiente neste Caminho. Nesse estágio, é o próprio indivíduo quem melhor conhece sua história, emoções e experiências, o que dá ao buscador uma vantagem para interpretar os significados de seus sonhos de forma personalizada. Não que se poderá prescindir, em todos os casos, do auxílio do helper, mas que a expansão do autoconhecimento, o maior conhecimento da linguagem que rege os nossos sonhos e a experiência na interpretação e “tradução” de seus conteúdos, nos capacitará a aproveitar mais, e de forma confiável, da riqueza deste material que diariamente entramos em contato. 

Ter um caderno pessoal para registros dos sonhos ajuda a lidar eficazmente com as mencionadas dificuldades existentes neste precioso trabalho e, assim, conseguimos agregar muito à nossa jornada pessoal de autoconhecimento e autotransformação.  A interpretação de sonhos, quando bem cultivada, se torna uma bússola interna, ajudando-nos a nos conhecer melhor e trazendo muita sustentação para o trabalho de autotransformação. Quanto mais alguém se dedica a essa prática, mais aprende a dialogar com sua própria psique e a transformar sua vida de forma consciente. Alguma dúvida da sutileza e potencial por detrás da interpretação de nossos sonhos?


Muita paz!


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